quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Liderança - Convivendo com Traumas e Sofrimentos

 Observatório JB traz nesta postagem comentários, pesquisas, experimentos e orientações para lideranças em geral, a partir de artigo publicado neste mês na Harvard Business Review, indicando ações para neutralizar ou minimizar efeitos de traumas e sofrimentos produzidos pela pandemia do COVID-19 em suas equipes.

Tempo aproximado de leitura:  8 minutos

Crise e dor

Os últimos meses foram uma sucessão de experiências dolorosas: uma pandemia global, colapso econômico, isolamento social, novos alertas de violência policial, corrupção com dinheiro destinado à saúde, incêndios florestais, furacões, enfim... uma crise seguida de outra. 

 

Em julho deste ano, as taxas de depressão e ansiedade nos EUA chegaram a mais do que o triplo do início de 2019. No Brasil - que já trazia, desde 2019, o título de país mais ansioso do mundo, atribuído pela OMS - dados preliminares de pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em trabalho promovido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), indicaram a existência de depressão, ansiedade e/ou estresse pós-traumático na população brasileira devido à pandemia da COVID-19.

Em 17,5 mil questionários respondidos, a ansiedade afetava 86,5% do total de pessoas, diz o relatório divulgado neste mês de setembro.

Voltando às empresas, locais de trabalho de grande parte dessas pessoas, elas também estão lotadas de traumas. Os líderes, com o desafio de manter suas equipes saudáveis, tem essa missão dificultada pelo fato de que muitos trabalham remotamente e são afetados diretamente por inúmeros outros fatores de estresse além daqueles específicos do ambiente corporativo.

Foram dias muito duros: ruas vazias, a expectativa rondando cada pessoa, a insegurança se alastrando pelas cidades.


Resposta animadora

Apesar desse quadro, especialistas na ciência do trauma propõem uma perspectiva surpreendentemente esperançosa: “em vez de perguntar como vamos nos recuperar desses tempos dolorosos, devemos perguntar como seremos transformados por eles. Em muitos casos, temos a oportunidade de mudar para melhor.”

 

A assertiva é baseada em experiências realizadas em momentos posteriores aos ataques ao World Trade Center, quando 4% dos entrevistados - e 11% dos residentes da cidade de Nova York - preencheram os critérios para transtorno de estresse pós-traumático, embora nenhum deles tivesse estado nas torres naquele dia.

 

Eventos como o 11 de setembro abalam nossas suposições de que o mundo é seguro e justo, mesmo que não estejamos em perigo iminente, além de revelar o quão vulneráveis ​​somos e quão pouco controlamos as situações. 

Estudos com dezenas de milhares de pessoas, descobriram que 65% dos sobreviventes mostraram uma " trajetória resiliente, permanecendo psicologicamente estável”. Ainda mais surpreendente é que muitos sobreviventes experimentam um aumento do bem-estar após o trauma. Pessoas muitas vezes começam de novo e repensam suas prioridades. Eles podem mudar de carreira para melhor corresponder a seus valores ou se reconectar com amigos distantes. 

 

Ninguém escolheria ser submetido a traumas, arremata o artigo, mas apesar de todos os seus horrores, a pandemia Covid-19 forçou muitos de nós a um estilo de vida mais sustentável e incentivou transformações semelhantes às citadas acima - já relatadas neste Observatório em outras ocasiões. 

 

Ação das Lideranças

Em vez de manter expectativas ou tentar fazer com que os empregados voltem ao normal, é mais efetivo se perguntar como suas organizações podem crescer neste momento. Especialistas do comportamento indicam o caminho: afirmando valores; e enfatizando a comunidade.

Ambos os aspectos se tornaram emblemáticos e vem mobilizando uma série de movimentos que se espalham pelo mundo, quase que espontaneamente, nos últimos meses.


A atuação efetiva dos líderes pode ser decisiva na reconstrução da malha de comunicação e da interação dentro das equipes.

Afirmar Valores

Muitas pessoas, líderes e equipes, tiveram senso de segurança e autoestima prejudicados neste período, trabalhar valores corporativos e pessoais, pode ser uma forma de o ambiente corporativo contribuir para minimizar essas ameaças.

Com foco no aspecto empresarial a orientação é atuar de forma a fortalecer os valores, independentemente das circunstâncias, fixando-se nos propósitos maiores da empresa, pois isso tende a fortalecer o propósito do time.

No entanto, nunca é demais lembrar, é decisivo ser verdadeiro. Se os valores fixados na parede divergem das evidências da vida real corporativa, só o fato de lembra-los pode produzir desencanto e cinismo.

Gol contra... Melhor não.

No que se refere a fortalecer os valores pessoais, o artigo sugere que um exercício de afirmação de valores pode ajudar a elevar o moral da equipe ao levar os membros a refletirem e listar seus princípios orientadores mais importantes – como por exemplo, ajudar os outros, expressar criatividade, agregar pessoas - e escrever a razão pela qual esses valores são importantes para eles. 

Os especialistas concluem que participar de um exercício de afirmação como este produz resultados poderosos e de longo prazo. Ao vincular palavras e ações, os líderes podem ajudar as suas equipes a se concentrar não apenas no que fazem, mas também no porque estão fazendo.

 

Enfatizar a comunidade

Em Madrid após o atentado terrorista em 2004, psicólogos entrevistaram moradores e concluíram que os sobreviventes são mais propensos a vivenciar o estresse pós traumático quando têm uma comunidade de apoio com a qual podem compartilhar experiências abertamente. 

Nesses últimos meses a nova realidade de videoconferência deixou evidente a carência de momentos intermediários em corredores e salas de descanso, tempo para conversas pessoais, importantes para promover a interação na comunidade do trabalho. 

Como forma de compensar essa deficiência os líderes podem incluir tempo nas reuniões para check-ins e estar abertos à intimidade dos colegas a qual, de certa forma, tem sido invadida, na medida em que se tomam conhecimento da casa, das famílias e animais de estimação destes.

Alternativas sadias neste sentido são ações que estabeleçam, por exemplo, redes de apoio em que pais que trabalham, aqueles que cuidam de parentes doentes e outros grupos podem discutir as lutas e comparar as situações e compartilhar as soluções.

A demonstração de empatia gera mais segurança e, com isso, as equipes trabalham com mais criatividade e podem ter um desempenho superior.

 

Finalmente o novo

O artigo é concluído citando que, se a dor dos últimos meses nos desestabilizou, tirando o conforto e a rotina e revelando quem realmente somos, essas estratégias podem ajudar as organizações a construir o que gostaríamos que estivesse lá o tempo todo.

 

Caso queira ler o artigo na íntegra acesse em:

https://hbr.org/2020/09/dont-just-lead-your-people-through-trauma-help-them-grow

    

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