Observatório JB traz nesta postagem comentários, pesquisas, experimentos e orientações para lideranças em geral, a partir de artigo publicado neste mês na Harvard Business Review, indicando ações para neutralizar ou minimizar efeitos de traumas e sofrimentos produzidos pela pandemia do COVID-19 em suas equipes.
Tempo aproximado de leitura: 8 minutos
Crise e dor
Os últimos meses foram uma sucessão de
experiências dolorosas: uma pandemia global, colapso econômico, isolamento
social, novos alertas de violência policial, corrupção com dinheiro destinado à
saúde, incêndios florestais, furacões, enfim... uma crise seguida de outra.
Em julho deste ano, as taxas de depressão e
ansiedade nos EUA chegaram a mais do que o triplo do início de 2019. No Brasil - que já
trazia, desde 2019, o título de país mais ansioso do mundo, atribuído pela OMS -
dados preliminares de pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em trabalho
promovido pelo Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA), indicaram a existência de depressão, ansiedade e/ou estresse
pós-traumático na população brasileira devido à pandemia da COVID-19.
Em 17,5
mil questionários respondidos, a ansiedade afetava 86,5% do total de pessoas,
diz o relatório divulgado neste mês de setembro.
Voltando às empresas, locais de trabalho de
grande parte dessas pessoas, elas também estão lotadas de traumas. Os líderes, com
o desafio de manter suas equipes saudáveis, tem essa missão dificultada pelo
fato de que muitos trabalham remotamente e são afetados diretamente por inúmeros
outros fatores de estresse além daqueles específicos do ambiente corporativo.
Foram dias muito duros: ruas vazias, a expectativa
rondando cada pessoa, a insegurança se alastrando pelas cidades.
Resposta animadora
Apesar desse quadro, especialistas na
ciência do trauma propõem uma perspectiva surpreendentemente esperançosa: “em
vez de perguntar como vamos nos recuperar desses tempos dolorosos, devemos
perguntar como seremos transformados por eles. Em muitos casos, temos a oportunidade
de mudar para melhor.”
A assertiva é baseada em experiências realizadas
em momentos posteriores aos ataques ao World Trade Center, quando 4% dos
entrevistados - e 11% dos residentes da cidade de Nova York - preencheram os
critérios para transtorno de estresse pós-traumático, embora nenhum
deles tivesse estado nas torres naquele dia.
Eventos como o 11 de setembro abalam nossas suposições de que
o mundo é seguro e justo, mesmo que não estejamos em perigo iminente, além de revelar
o quão vulneráveis somos e quão pouco controlamos as situações.
Estudos com dezenas de milhares de pessoas,
descobriram que 65% dos sobreviventes mostraram uma " trajetória resiliente, permanecendo
psicologicamente estável”. Ainda mais surpreendente é que muitos sobreviventes
experimentam um aumento do bem-estar
após o trauma. Pessoas muitas vezes começam de novo e repensam suas
prioridades. Eles podem mudar de carreira para melhor corresponder a seus
valores ou se reconectar com amigos distantes.
Ninguém escolheria ser submetido a traumas,
arremata o artigo, mas apesar de todos os seus horrores, a pandemia Covid-19
forçou muitos de nós a um estilo de vida mais sustentável e incentivou transformações semelhantes às citadas acima -
já relatadas neste Observatório em outras ocasiões.
Ação das Lideranças
Em vez de manter expectativas ou tentar fazer
com que os empregados voltem ao normal, é mais efetivo se perguntar como suas
organizações podem crescer neste momento. Especialistas do comportamento
indicam o caminho: afirmando valores; e enfatizando a comunidade.
Ambos os aspectos se tornaram emblemáticos e vem mobilizando uma série de movimentos que se espalham pelo mundo, quase que espontaneamente, nos últimos meses.
A atuação efetiva dos líderes pode ser decisiva na reconstrução da malha de comunicação e da interação dentro das equipes.
Afirmar Valores
Muitas pessoas, líderes e equipes, tiveram
senso de segurança e autoestima prejudicados neste período, trabalhar valores corporativos
e pessoais, pode ser uma forma de o ambiente corporativo contribuir para
minimizar essas ameaças.
Com foco no aspecto empresarial a orientação
é atuar de forma a fortalecer os valores, independentemente das circunstâncias,
fixando-se nos propósitos maiores da empresa, pois isso tende a fortalecer o propósito
do time.
No entanto, nunca é demais lembrar, é decisivo
ser verdadeiro. Se os valores fixados na parede divergem
das evidências da vida real corporativa, só o fato de lembra-los pode produzir desencanto e
cinismo.
Gol contra... Melhor não.
No que se refere a fortalecer os valores
pessoais, o artigo sugere que um exercício de afirmação de valores pode ajudar
a elevar o moral da equipe ao levar os membros a refletirem e listar seus
princípios orientadores mais importantes – como por exemplo, ajudar os outros,
expressar criatividade, agregar pessoas - e escrever a razão pela qual esses
valores são importantes para eles.
Os especialistas concluem que participar de
um exercício de afirmação como este produz resultados poderosos e de longo prazo. Ao vincular palavras e ações, os líderes podem ajudar as suas equipes a
se concentrar não apenas no que fazem, mas também no porque
estão fazendo.
Enfatizar a comunidade
Em Madrid após o atentado terrorista em
2004, psicólogos entrevistaram moradores e concluíram
que os sobreviventes são mais propensos a vivenciar o estresse pós traumático
quando têm uma comunidade de apoio com
a qual podem compartilhar experiências abertamente.
Nesses últimos meses a nova realidade de
videoconferência deixou evidente a carência de momentos intermediários em
corredores e salas de descanso, tempo para conversas pessoais, importantes para
promover a interação na comunidade do trabalho.
Como forma de compensar essa deficiência os
líderes podem incluir tempo nas reuniões para check-ins e estar abertos à
intimidade dos colegas a qual, de certa forma, tem sido invadida, na medida em
que se tomam conhecimento da casa, das famílias e animais de estimação destes.
Alternativas sadias neste sentido são ações
que estabeleçam, por exemplo, redes de apoio em que pais que
trabalham, aqueles que cuidam de parentes doentes e outros grupos podem
discutir as lutas e comparar as situações e compartilhar as soluções.
A demonstração de empatia gera mais segurança
e, com isso, as equipes trabalham com mais criatividade e podem ter um desempenho superior.
Finalmente o novo
O artigo é concluído citando que, se a dor
dos últimos meses nos desestabilizou, tirando o conforto e a rotina e revelando
quem realmente somos, essas estratégias podem ajudar as organizações a construir
o que gostaríamos que estivesse lá o tempo todo.
Caso queira ler o artigo na íntegra acesse em:
https://hbr.org/2020/09/dont-just-lead-your-people-through-trauma-help-them-grow
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