Observatório JB traz nesta postagem informações e comentários sobre pesquisas e relatos de experiências que podem nos ajudar a identificar novos caminhos nas relações de trabalho e novas práticas que ocorreram a partir do início da pandemia do covid-19, tanto por iniciativa das empresas como dos trabalhadores. Essas práticas dão uma ideia dos temas que as lideranças poderão priorizar a partir de agora, com foco em uma relação mais equilibrada entre empresas e empregados e, para as pessoas em geral, entre a vida pessoal e profissional de cada um.
Tempo aproximado de leitura: 8 minutos
Tempos de transição
Nossa economia continua com desemprego em alta, mas com profissionais sobrecarregados nas empresas. Situação algo paradoxal, resultado de crises sucessivas que se tornaram agudas na pandemia do covid-19, com uma combinação explosiva onde pontificaram problemas sanitários, paralisações em grande parte da economia e escassez de matérias primas diversas.
Tudo isso
rompeu o que restava de equilíbrio em alguns setores, aprofundou as
desigualdades e requer criatividade, inovação, persistência e resiliência para a
reversão dos impactos da crise e ajudar a fomentar um futuro com vida
pessoal e profissional em equilíbrio.
Especificamente no campo do
trabalho, analistas mais críticos dizem que "quem comandou a mudança cultural
para instituir o trabalho em home office nas empresas não foi o CEO,
COO ou outra liderança qualquer. Mas, sim, o COVID-19."
Ironias à
parte, estabelecida como rotina a prática do trabalho à distância os CEO, COO e outros
dirigentes que devem cuidar deste assunto, já têm disponível um robusto
conjunto de informações e situações para estudar e definir os próximos passos.
É chegada a hora de começar a produzir respostas, porque neste período ocorreram mudanças nas práticas e nas preferências, relativamente ao trabalho, tanto do lado dos trabalhadores como das empresas.
Algumas informações a respeito
A Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) conduziu pesquisa pela Fundação Instituto de Administração (FIA), na qual verificou que o trabalho remoto vem sendo apreciado por quem o pratica, e a intenção da maioria é que continue assim, apesar declararem que a jornada diária acaba sendo maior que a contratada.
- 73% dos entrevistados estão felizes com o home
office.
- 78% afirmam ter vontade de manter essa rotina após
o término das medidas de isolamento social.
- 81% dos
entrevistados afirmaram ser tão, ou até mais, produtivos trabalhando de casa do
que presencialmente.
Já a Microsoft,
acompanhou mais de 60.000 funcionários e descobriu que estes perceberam uma
redução na criatividade, comunicação e no trabalho em equipe após a
implementação do modelo remoto. Nesse estudo descobriu, também, que as horas de
trabalho aumentaram, assim como o volume de mensagens e e-mails enviados. O trabalho
da Microsoft concluiu que:
- A implementação de um modelo híbrido seria o
mais indicado.
- A proporção ideal, nesse modelo seria: cada
funcionário passaria dois dias no escritório por semana, alternando com outros.
- Os
principais ganhos seriam na melhoria da integração e no repasse do fluxo de comunicação
e informações.
Outro
estudo, este da publicação MIT Technology Review Brasil - com foco em tecnologia e negócios, apontou um cenário de vantagens e desvantagens para trabalhadores
e empresas, a saber.
- Para as empresas ficou mais difícil medir a
produtividade das pessoas e controlar a privacidade de dados. Por outro lado,
há a grande vantagem da economia: redução de espaço físico, de manutenção e
menor necessidade de mobilização em ativos, por exemplo.
- Para os
trabalhadores a grande vantagem apontada foi a possibilidade de ter maior
domínio da sua agenda de trabalho. Por outro lado, as pessoas ficaram muito
mais estressadas, ocupadas em demasia e com jornadas mais longas, o que é
prejudicial para uma vida saudável.
O próprio MIT, nos estados Unidos, publicou estudo em Proceedings of the National Academy of Sciences, com foco no conceito de inteligência coletiva e mostrou que “não é onde trabalhamos que mais importa – é como o trabalho é feito e quem o está fazendo”. O trabalho analisou os resultados de mais de 5.000 participantes em mais de 1.300 grupos em 22 amostras diferentes e identificou que, na prática:
- Grupos que trabalham remotamente podem ser tão
eficazes quanto grupos que trabalham presencialmente.
- Melhores processos e novas ferramentas online podem tornar o trabalho remoto ainda mais eficaz.
- O foco no trabalho remoto não significa que os funcionários nunca se encontrem pessoalmente.
No Brasil, onde as consequências de questões dessa natureza terminam, tradicionalmente, “nas barras dos tribunais” especialistas dizem que foi criado um vácuo legal cujo rastro pode ser medido pelo volume de processos trabalhistas envolvendo o teletrabalho, que aumentaram 270% durante a pandemia do covid-19.
Uma tendência (?)
Por falar em “barras dos tribunais”, um outro achado, no mínimo curioso, detalhado em publicação da BBC News, aborda algo pode estar ocorrendo nas relações de trabalho, neste momento, em âmbito global. Um fato que, com o home office tornou-se frequente e, por isso, passou a ter mais visibilidade.
Os autores
do estudo demonstram que o aumento do trabalho remoto vem proporcionando a cada
vez mais profissionais a possibilidade de assumir dois cargos em tempo
integral, aproveitando-se do fato de estarem longe dos olhos (e do controle) dos
seus superiores. E com isso obtendo um acréscimo considerável em seus
rendimentos.
Há longo tempo muitos trabalhadores consideram seus empregos insatisfatórios ou sem sentido — gerando problemas como burnout — e entendem que a estrutura das empresas fornece poder exagerado aos gerentes nas relações de trabalho.
Voltando
ao paradoxo do início deste texto - um grande exército de desempregados em um
mercado de trabalho que convive com profissionais sobrecarregados de atividades
– essa alternativa mostra que um emprego adicional pode se tornar uma fonte
segura de renda e experiência adicional — ferramentas importantes em uma era de
desemprego em massa, incerteza econômica e contínua depreciação do bem-estar no
trabalho.
O duplo emprego é uma situação delicada, daquelas que podem bater às portas dos tribunais. A sua possibilidade depende do tipo de contrato assinado no momento da contratação para o emprego original e do fato de o trabalhador estar (ou não) rompendo acordos de não concorrência.
O duplo emprego pode estar chamando atenção, mas as pessoas que buscam o segundo emprego em segredo ainda são minoria, porque a ação implica em riscos. Embora seja um assunto palpitante é relativamente novo e a prática ainda é desconhecida para muitos.
Papel das lideranças
As
oportunidades proporcionadas pela necessidade de novos modelos e arranjos de
trabalho por conta da pandemia do covid-19 podem, de alguma forma, ter aberto
espaço para novas práticas conduzidas pelas empresas e para iniciativas produzidas
pelos trabalhadores, individualmente ou em equipe.
Algumas
delas vão testar a resistência das relações de emprego - de parte a parte – seja
pela atividade presencial ou remota para o trabalho; pela necessidade de melhor
estudar as jornadas de trabalho e seus respectivos encargos (ou sobrecargas);
por melhor definir as questões de vínculo e exclusividade, ou outras inúmeras
questões que a cada momento surgem nas programações que as empresas e
empregados estão fazendo para aquilo que já foi chamado de “o novo normal”.
Espera-se
que, agora, os CEO, COO etc. tomem a iniciativa da mudança...
Informações detalhadas, pedido de reunião ou interesse em temas afins: contato@jbconsul.com.br
ou (21) 9999-52440 (também no WhatsApp)