sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Covid-19, home office e seus efeitos colaterais para o futuro do trabalho

 Observatório JB traz nesta postagem informações e comentários sobre pesquisas e relatos de experiências que podem nos ajudar a identificar novos caminhos nas relações de trabalho e novas práticas que ocorreram a partir do início da pandemia do covid-19, tanto por iniciativa das empresas como dos trabalhadores. Essas práticas dão uma ideia dos temas que as lideranças poderão priorizar a partir de agora, com foco em uma relação mais equilibrada entre empresas e empregados e, para as pessoas em geral, entre a vida pessoal e profissional de cada um.

Tempo aproximado de leitura:  8 minutos 


Tempos de transição

Nossa economia continua com desemprego em alta, mas com profissionais sobrecarregados nas empresas. Situação algo paradoxal, resultado de crises sucessivas que se tornaram agudas na pandemia do covid-19, com uma combinação explosiva onde pontificaram problemas sanitários, paralisações em grande parte da economia e escassez de matérias primas diversas.

Tudo isso rompeu o que restava de equilíbrio em alguns setores, aprofundou as desigualdades e requer criatividade, inovação, persistência e resiliência para a reversão dos impactos da crise e ajudar a fomentar um futuro com vida pessoal e profissional em equilíbrio. 

Especificamente no campo do trabalho, analistas mais críticos dizem que "quem comandou a mudança cultural para instituir o trabalho em home office nas empresas não foi o CEO, COO ou outra liderança qualquer. Mas, sim, o COVID-19."

Ironias à parte, estabelecida como rotina a prática do trabalho à distância os CEO, COO e outros dirigentes que devem cuidar deste assunto, já têm disponível um robusto conjunto de informações e situações para estudar e definir os próximos passos.

É chegada a hora de começar a produzir respostas, porque neste período ocorreram mudanças nas práticas e nas preferências, relativamente ao trabalho, tanto do lado dos trabalhadores como das empresas.

A combinação de desemprego em alta, com profissionais sobrecarregados nas empresas é algo paradoxal e de alto risco social.

Algumas informações a respeito

A Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP)  conduziu pesquisa pela Fundação Instituto de Administração (FIA), na qual verificou que o trabalho remoto vem sendo apreciado por quem o pratica, e a intenção da maioria é que continue assim, apesar declararem que a jornada diária acaba sendo maior que a contratada.

  • 73% dos entrevistados estão felizes com o home office.
  • 78% afirmam ter vontade de manter essa rotina após o término das  medidas de isolamento social.
  • 81% dos entrevistados afirmaram ser tão, ou até mais, produtivos  trabalhando de casa do que presencialmente.

Já a Microsoft, acompanhou mais de 60.000 funcionários e descobriu que estes perceberam uma redução na criatividade, comunicação e no trabalho em equipe após a implementação do modelo remoto. Nesse estudo descobriu, também, que as horas de trabalho aumentaram, assim como o volume de mensagens e e-mails enviados. O trabalho da Microsoft concluiu que:

  • A  implementação de um modelo híbrido seria o mais indicado.
  • A proporção ideal, nesse modelo seria: cada funcionário passaria dois dias no escritório por semana, alternando com outros.
  • Os principais ganhos seriam na melhoria da integração e no repasse do fluxo de comunicação e informações.

Outro estudo, este da publicação MIT Technology Review Brasil - com foco em  tecnologia e negócios, apontou um cenário de vantagens e desvantagens para trabalhadores e empresas, a saber.

  • Para as empresas ficou mais difícil medir a produtividade das pessoas e controlar a privacidade de dados. Por outro lado, há a grande vantagem da economia: redução de espaço físico, de manutenção e menor necessidade de mobilização em ativos, por exemplo.
  • Para os trabalhadores a grande vantagem apontada foi a possibilidade de ter maior domínio da sua agenda de trabalho. Por outro lado, as pessoas ficaram muito mais estressadas, ocupadas em demasia e com jornadas mais longas, o que é prejudicial para uma vida saudável.

O próprio MIT, nos estados Unidos, publicou estudo em Proceedings of the National Academy of Sciences, com foco no conceito de inteligência coletiva e mostrou que “não é onde trabalhamos que mais importa – é como o trabalho é feito e quem o está fazendo”. O trabalho analisou os resultados de mais de 5.000 participantes em mais de 1.300 grupos em 22 amostras diferentes e identificou que, na prática:

  • Grupos que trabalham remotamente podem ser tão eficazes quanto grupos que trabalham presencialmente.
  • Melhores processos e novas ferramentas online podem tornar o trabalho remoto ainda mais eficaz
  • O foco no trabalho remoto não significa que os funcionários nunca se encontrem pessoalmente.

No Brasil, onde as consequências de questões dessa natureza terminam, tradicionalmente, “nas barras dos tribunais” especialistas dizem que foi criado um vácuo legal cujo rastro pode ser medido pelo volume de processos trabalhistas envolvendo o teletrabalho, que aumentaram 270% durante a pandemia do covid-19.

Longe do controle gerencial, trabalhadores estão se arriscando com duplo emprego para recuperar a sensação de controle, para desafiar o modelo de relação de trabalho ou ganhar um dinheiro extra.

Uma tendência (?)

Por falar em “barras dos tribunais”, um outro achado, no mínimo curioso, detalhado em publicação da BBC News, aborda algo pode estar ocorrendo nas relações de trabalho, neste momento, em âmbito global. Um fato que, com o home office tornou-se frequente e, por isso, passou a ter mais visibilidade.

Os autores do estudo demonstram que o aumento do trabalho remoto vem proporcionando a cada vez mais profissionais a possibilidade de assumir dois cargos em tempo integral, aproveitando-se do fato de estarem longe dos olhos (e do controle) dos seus superiores. E com isso obtendo um acréscimo considerável em seus rendimentos.

Há longo tempo muitos trabalhadores consideram seus empregos insatisfatórios ou sem sentido — gerando problemas como burnout — e entendem que a estrutura das empresas fornece poder exagerado aos gerentes nas relações de trabalho.

Cada vez mais trabalhadores parecem estar se arriscando com duplo emprego para recuperar a sensação de controle, para desafiar o modelo de relação de emprego ou ganhar um dinheiro extra em algo que envolva as suas paixõesParece ser uma oportunidade de ouro mas exige discrição e disposição ao risco. 

Voltando ao paradoxo do início deste texto - um grande exército de desempregados em um mercado de trabalho que convive com profissionais sobrecarregados de atividades – essa alternativa mostra que um emprego adicional pode se tornar uma fonte segura de renda e experiência adicional — ferramentas importantes em uma era de desemprego em massa, incerteza econômica e contínua depreciação do bem-estar no trabalho.

O duplo emprego é uma situação delicada, daquelas que podem bater às portas dos tribunais. A sua possibilidade depende do tipo de contrato assinado no momento da contratação para o emprego original e do fato de o trabalhador estar (ou não) rompendo acordos de não concorrência.

O duplo emprego pode estar chamando atenção, mas as pessoas que buscam o segundo emprego em segredo ainda são minoria, porque a ação implica em riscos. Embora seja um assunto palpitante é relativamente novo e a prática ainda é desconhecida para muitos.


Papel das lideranças

As oportunidades proporcionadas pela necessidade de novos modelos e arranjos de trabalho por conta da pandemia do covid-19 podem, de alguma forma, ter aberto espaço para novas práticas conduzidas pelas empresas e para iniciativas produzidas pelos trabalhadores, individualmente ou em equipe.

Algumas delas vão testar a resistência das relações de emprego - de parte a parte – seja pela atividade presencial ou remota para o trabalho; pela necessidade de melhor estudar as jornadas de trabalho e seus respectivos encargos (ou sobrecargas); por melhor definir as questões de vínculo e exclusividade, ou outras inúmeras questões que a cada momento surgem nas programações que as empresas e empregados estão fazendo para aquilo que já foi chamado de “o novo normal”.

Espera-se que, agora, os CEO, COO etc. tomem a iniciativa da mudança...


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