quinta-feira, 4 de junho de 2020

Home Office. É isso mesmo que estamos fazendo?

Logo ao início deste infindável período de distanciamento social, quarentena, isolamento (vertical, horizontal ou diagonal) e tantos outros codinomes que esta fase das nossas vidas tem recebido, comentamos no blog Gestão & Etc. sobre o home office que na ocasião foi tratado, com liberalidade, como sinônimo de trabalho remoto.

Na ocasião, com foco no que efetivamente se entende como home office, foram citadas as principais providências que precisavam ser tomadas por empresas e trabalhadores, de parte a parte.

Só relembrando resumidamente, seriam encargos das empresas providências ligadas à estrutura de tecnologia e gestão de pessoas. Quanto aos trabalhadores as recomendações dadas enfocaram mais a chamada linha “comportamental”, no sentido de orientar cuidados e providências básicas àqueles que não tinham essa experiência de trabalhar desde a sua casa.

E, desde março, estamos todos na expectativa de saber como nossas empresas estão implementando o home office, de fato.

O que as pesquisas constatam é a adoção em massa, do que foi chamado jocosamente por um especialista de "working from home". As pessoas foram trabalhar de suas residências, mas as empresas não fizeram adequadamente a parte que lhes cabia, seja sob o ponto de vista técnico, de gestão de pessoas ou ajustes em processos de trabalho.

                                 

Falando em pesquisa, excelente trabalho publicado pelo Word Economic Forum  concluiu que 98% das pessoas consultadas gostariam da opção de trabalhar remotamente pelo resto de suas carreiras. Cumprir um horário flexível, ter a condição de trabalhar em qualquer local e evitar o deslocamento foram os principais benefícios relatados.

Mas nem tudo são flores, com 22% dos trabalhadores descobrindo que o maior desafio é “desconectar” do trabalho, pois, sem a mudança clara de local e sem o horário de expediente definido, muitas pessoas passaram a roubar parte do seu tempo pessoal em favor da atividade profissional. Além disso, a falta de comunicação pessoa a pessoa mostrou ser um desafio para algumas pessoas, com sentimentos de solidão e falta de maior comunicação interpessoal chegando, somadas, a 36% das queixas. De fato, Um terço das pessoas temia que toda a extensão de seus esforços profissionais não fosse apreciada devido à falta de contato no escritório.

O que ficou claro em termos de tendência é que, embora o número de pessoas trabalhando parcial ou totalmente de forma remota esteja aumentando há anos, a pandemia do COVID-19 pode ter pressionado o botão de avanço rápido dessa tendência. Ou seja: o crescimento, que era linear e discreto, tomou proporções geométricas. Ou mais.

O trabalho do World Economic Forum identificou também – o que está bem mais próximo de nossa realidade verde e amarela – que embora possa haver razões técnicas ou relacionadas à segurança por trás da resistência ao trabalho remoto, uma grande barreira é a simples resistência à mudança. Mais de 50% das empresas que não tinham uma política flexível ou não utilizavam trabalho remoto creditaram sua dificuldade para adotar o home office a aspectos culturais da empresa.


Incluindo dados nacionais, estudos realizados pela Fundação Dom Cabral em parceria com a Grant Thornton Brasil, identificou que 95% das pessoas começaram a trabalhar remotamente devido ao Covid-19.

Tendo como um dos principais objetivos com a pesquisa a projeção de cenários futuros dentro das empresas quanto a uma possível mudança ou implementação maior da prática do home office, foi identificado ainda que 50% dos participantes concordaram com a afirmativa de que o espaço físico para o trabalho remoto permite boa produção. Por outro lado, 54% dos pesquisados afirmaram ter a intenção de propor para seu gestor ou líder, a continuidade do trabalho remoto.

Como principais desafios foram apontadas as dificuldades de estrutura de tecnologia e orientação das lideranças, juntamente à necessidade de maior foco e concentração pessoal.

Não por acaso estes são basicamente os assuntos comentados nos textos que citamos ao início deste Observatório e que, ainda hoje, são os maiores desafios para que ocorra - não apenas na prática, mas também tecnicamente - a utilização dos recursos e os benefícios do trabalho remoto, como ele deve ser.

É uma questão de rever prioritariamente aspectos culturais das empresas e processos de trabalho, não apenas a tecnologia.

Não é uma questão de, apenas, colocar as pessoas para trabalhar a partir de suas casas; o processo em que essa cadeia de trabalho ocorre precisa, imediatamente, ser alterado.

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