quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Evite que a cultura da "ocupação" se transforme em burnout

Observatório JB traz nesta postagem comentários sobre artigos e pesquisas recentes, publicados em função do rápido crescimento que vem apresentando a Síndrome de burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, além de algumas recomendações de especialistas do comportamento organizacional para evitar que esse comportamento se torne crônico no meio corporativo. 

Tempo aproximado de leitura:  8 minutos

Conceituando
Inicialmente, para entendermos melhor do que estamos falando, algumas informações que podem ser úteis para algumas pessoas.

A Síndrome de burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu recentemente na Classificação Internacional de Doenças (CID) - que lista enfermidades e estatísticas de saúde. A OMS descreve o burnout como “uma síndrome resultante de um stress crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

A necessidade de estar constantemente ocupada ou voltada para ações do trabalho é o comportamento mais comum na pessoa que apresenta este quadro.

Fazendo uma tradução do inglês, em sentido amplo, temos que burnout (burn + out) significa algo como “queimar completamente o seu combustível”. Ou seja, alguém que apresenta a síndrome de burnout sente-se em estado de fragilidade, como se tivesse queimado todas as suas energias.

No Brasil, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), 30% dos trabalhadores apresenta sintomas que caracterizam esta síndrome. Comparativamente a outros países, o Brasil está atrás apenas do Japão, onde 70% da população apresenta os sintomas de burnout.

Em casa e no trabalho, a cultura “da ocupação” agrava os problemas que promete resolver. Em um ambiente dessa natureza é natural supor que quanto mais ocupados estivermos, maior será o impacto que seremos capazes de causar.

Estudos e Especialistas
Em estudos para conhecer causas e resolver problemas de conflitos entre trabalho e vida pessoal, especialistas da ciência comportamental identificaram como a cultura “da ocupação” destrói a produtividade e nos afasta tanto de nossas famílias quanto de relacionamentos mais profundos com nossos colegas de trabalho

E pode conduzir à síndrome de burnout, com os efeitos já bastante conhecidos, entre os quais despontam: exaustão extrema (física e mental), dor de cabeça frequente, insônia, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, irritabilidade constante, e sentimentos de derrota e desesperança.

Como todas as culturas de trabalho, a cultura “da ocupação” começa no topo, com líderes que querem parecer bem-sucedidos, importantes e produtivos. Mas a situação é difícil de superar porque ela também tem raízes na base, onde os funcionários juniores competem para se destacar como trabalhadores empenhados, ansiosos por contribuir e crescer.

Na pesquisa realizada, embora os líderes tenham expressado o desejo de um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida profissional — se não por si mesmos, pelo menos para o resto de seus funcionários — estavam frequentemente entre os piores infratores: enviando mensagens às 21h; encaminhando e-mails durante o fim de semana ou à noite; e raramente tirando férias.

O trabalho acaba se espalhando em noites, fins de semana, férias, no trânsito, em salas de espera de hospital e celebrações familiares. Enredando a todos - trabalhadores, familiares e amigos, em uma (in)visível teia.

Fica evidente então, quão frágeis nossas fronteiras entre trabalho e vida pessoal se transformaram graças à proliferação de tecnologias que tornam possível trabalhar e se conectar uns com os outros de qualquer lugar, a qualquer hora.

As pessoas estão se sentindo consumidas. E no entanto, apesar disso, muitos trabalhadores usam publicamente os resultados deste martírio como um distintivo de honra.

Saídas da crise
Sendo as lideranças os maiores responsáveis, a pergunta que não se cala é: o que os líderes podem fazer para vencer uma cultura tóxica como essa? Resposta fácil não há. 
Também não adianta crer no sucesso de eventuais ações isoladas como se fosse um passe de mágica para alterar a cultura e o ambiente de trabalho. 

A questão é estratégica e só com boa estratégia pode ser equacionada. Nessa linha, vamos comentar estudos e práticas que nos indicam algumas estratégias que apresentaram sucesso, com ações pouco usuais em nosso ambiente empresarial, mas que podem sugerir caminhos inovadores para tratar e resolver esse grave problema.

Incentivar o estabelecimento de limites.
A cultura “da ocupação” tem que ser combatida com o compromisso inquestionável da empresa. Elogiar os funcionários e conceder-lhes um tempo extra de folga é um bom começo, mas essas medidas geralmente podem ser interpretadas como gestos simbólicos. Uma ação que parece funcionar é pagar às pessoas para ficarem menos ocupadas.

Isso pode parecer radical, mas pagar as pessoas para trabalhar menos tem se mostrado uma solução apropriada para o que se tornou um problema sério.

Em diversos países, pesquisas enfocando o grupo que se convencionou em algumas publicações como os “trabalhadores do conhecimento” - que em nossa realidade, sem muita chance de erro, podemos chamar de “o pessoal de escritório” - apontaram que mais de 80% desses empregados enviam e-mails de trabalho nos fins de semana; quase seis em cada 10 fazem isso durante as férias, e mais da metade verifica e-mails depois das 23h.

A boa notícia é que eles também são comportamentos que os gerentes podem facilmente rastrear e usar para promover a definição de limites.

Assim, uma empresa de tecnologia, a FullContact, faz isso anos. Os funcionários podem ganhar um salário adicional de férias de até US$ 7.500 seguindo três regras simples: não verificar mensagens de trabalho; não trabalhar; e procurar não ficar em casa (ressalvados atualmente os eventuais lockouts). O salário extra é conferido através de uma combinação de compartilhamento de fotos de férias, monitoramento de canais de comunicação e auto-relato.

Alguns anos após o lançamento do programa, o diretor de comunicação da empresa, Brad McCarty, disse ao Washington Post que o programa estava funcionando "incrivelmente bem", acrescentando que quando os funcionários voltavam de férias estavam "brilhando mais, trabalhando mais e mais animados para voltar ao ritmo das coisas".

Foco na contribuição principal
Combater a cultura ocupada significa dizer "não" a tarefas que não se alinham com seus encargos primáriose os líderes têm que dar esse exemplo.

Enquanto a equipe não estiver vendo o seu líder dizendo "não" para tarefas secundárias, eles também não se sentirão confortáveis em fazê-lo. Para isso é importante que toda a equipe saiba quais são os principais encargos de seus membros - mesmo aqueles com quem a relação de trabalho não é direta – e tenha compromisso com este comportamento.

Neste caso, o exemplo de uma abordagem mais radical pode ser eficaz. O estrategista de liderança GregMcKeown, em seu livro Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (Essencialismo: A Busca Disciplinada de Menos), argumenta que para combater a cultura “da ocupação” e criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, os líderes devem dizer "sim" (executar) apenas o que estiver dentro de 10% das suas principais tarefas.

“Mostre através de suas ações que seus deveres principais são sua prioridade e diga "não" para as outras, para fazer a norma funcionar.”

A administração do tempo, dando prioridade às suas atividades pessoais é um dos melhores antídotos para o mal da cultura da "ocupação".

Apoie-se em influenciadores
A cultura é construída informalmente, interação por interação, mas nenhum indivíduo pode mudar a cultura da organização. O que funciona para efetivar a mudança é a pressão positiva de influenciadores, exercida por conexões sociais em vez de diretrizes de cima para baixo.

Interessante exemplo é dado com o caso do fundador da Gabb Wireless, Stephen Dalby (empresário americano que decidiu criar uma rede de celulares para crianças depois de perceber que não havia boas opções disponíveis para o primeiro telefone de seu filho). 

Dalby conta que muito relutou para colocar seu telefone desligado depois do trabalho. A que seu filho de 6 anos fez uma pergunta incisiva: "Papai, podemos jogar um jogo - ou seu telefone é muito importante?"

Fato curioso é que, apesar de fundar sua empresa para ajudar os jovens a passar menos tempo nas telas, Stephen Dalby lutou para desligar o "modo de negócios".

Para combater essa cultura em si mesmo e em sua equipe, ele encorajou os funcionários a estabelecer pequenas tradições diárias, como jantares sem celulares e ele falava sobre esses jantares no trabalho, lembrando ao seu time que a definição de limites saudáveis era a norma.

No trabalho é normal ficarmos ocupados. A chave, decisiva neste caso, é evitar que essa ocupação se torne crônica e, na empresa, não permitir que assuma caráter cultural.

Porque, quando isso acontece, torna-se doentia. Mesmo que, nos primeiros momentos, a atitude pareça ser produtiva.

     

     Informações adicionais? Faça contato conosco.
     contato@jbconsul.com.br

     Visite o nosso site: www.jbconsul.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário