Observatório JB traz nesta postagem algumas informações de estudos realizados por equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT), sobre como trabalhar de forma criativa com grupos em atuação virtual. Baseado em pesquisas que chegaram a conclusões como: "a colaboração virtual não mata a criatividade" e "mudar para o trabalho remoto pode ajudar os grupos a gerar ideias melhores - e mais delas" o MIT publicou recentemente interessante artigo, do qual alguns pontos de destaque estão a seguir resumidos.
Tempo aproximado de leitura: 8 minutos
Publicação do Massachusetts Institute of Technology (MIT) demonstra, a partir de pesquisas, vantagens para o trabalho remoto em termos de processos de criatividade em equipe. Fazem isso com ênfase e riqueza de exemplos, apesar de outros trabalhos (inclusive dentre os produzidos no próprio MIT) apresentarem afirmações contrárias, o que torna a leitura do artigo na integra muito interessante.
Primeiramente, como já é natural nesses tempos, a matéria do MIT comenta questões, dificuldades e soluções trabalhadas nas empresas para melhorar as condições de gestão de equipes em trabalho remoto durante a pandemia do covid-19. Mas, ao empregar informações de pesquisa para sedimentar suas ideias, faz referências a dados colhidos em trabalhos que se estendem às últimas duas décadas.
E as conclusões e argumentos apresentados mostram que a mudança para o trabalho remoto tem, na prática, o potencial de melhorar a criatividade e o trabalho com ideias do grupo, apesar da diminuição da comunicação pessoal.
Segundo os autores, é possível seguir o processo clássico, de começar com a geração de ideias - muitas vezes aparentemente estranhas, proceder ao teste e refinamento de algumas delas, e, eventualmente, avançando para o desenvolvimento total das ideias escolhidas. Porque a colaboração virtual não impede nada disso, nem está em conflito com as ideias sobre o que impulsiona a criatividade.
Com assertivas apoiadas em resultados de pesquisas, muitas vezes de longo prazo, o artigo se projeta com indicações práticas para aumentar a criatividade do grupo virtual, fazendo sempre comparações com eventos presenciais da mesma natureza.
Algumas premissas:
A habilidade criativa não é fixa ou inata
A criatividade é influenciada por fatores sob controle. Em estudo, alguns participantes foram informados de que o talento e a habilidade brutos determinam os resultados criativos, enquanto outros ouviram que fatores como motivação e persistência impulsionam a criatividade.
Ambos os grupos completaram uma tarefa de criatividade avaliada por juízes que não sabiam o que os participantes haviam ouvido. Contudo, o grupo que acreditava que a criatividade estava sob seu controle superou significativamente o outro.
Aplicando-se ao tema de equipes online, significa dizer que não é preciso colaborar pessoalmente para adotar uma mentalidade pró-ativa sobre criatividade - é possível pode fazer isso de forma independente, em qualquer lugar
Os indivíduos são mais criativos do que os grupos.
O trabalho demonstra que, na prática, a maioria dos estudos
descobriu que a criatividade “per capita” diminui vertiginosamente à medida que
o tamanho do grupo aumenta. Esclarece ter sido identificado que a dinâmica de grupo
pode diminuir a criatividade geral nas reuniões presenciais, sufocando certas
vozes enquanto amplifica
outras, além de proporcionar condições para conversas cruzadas simultâneas.
Em oposição, nas reuniões virtuais é quase impossível mais de uma pessoa falar
ao mesmo tempo e, por isso, somos forçados a nos concentrar na contribuição
individual, ficando mais fácil para os participantes menos vocais serem ouvidos
do que no mundo físico, onde muitas vezes suas vozes são abafadas.
As restrições estimulam o pensamento criativo.
Trabalhar dentro de limites nos leva a resolver problemas de
maneiras que não faríamos se tivéssemos rédea solta. Por exemplo; a pressão do
tempo muitas vezes estimula a geração de ideias mais eficiente; e a imposição
de regras de comunicação, como "não explique ideias", aumenta a
geração de ideias criativas.
De modo geral, as plataformas de reuniões virtuais impõem mais restrições à comunicação e colaboração do que configurações face a face, as quais -conclui - levarão os participantes a se estenderem além de suas formas usuais de pensamento, aumentando a criatividade.
A seguir são resumidas algumas sugestões práticas, extraídas do amplo corpo de pesquisas sobre criatividade e inovação. Segundo os autores são aplicáveis também para colaborações presenciais.
1. Evite o bloqueio da produção
Estudos compararam cuidadosamente o desempenho de pessoas que
trabalham independentemente com o de grupos interativos, medindo a
produtividade por pessoa e a qualidade das ideias durante um período fixo.
Inevitavelmente, os indivíduos superam os grupos.
As principais razões que deram base a essa conclusão, no trabalho, foram: a
própria conversa, que envolve ter que ouvir os outros educadamente. Trabalhar
remotamente requer menos disso porque, na comunicação virtual , há menos pressão para um envolvimento constante
de conversação, e, assim, as pessoas
podem se concentrar mais facilmente na geração de ideias; o fato de que, com o
rosto de todos à mostra; as pessoas podem gastar energia gerenciando como se
apresentam.
Uma boa medida para minimizar essa fonte de bloqueio de produção, pode ser reservar
grandes blocos de tempo para trabalho individual, longe da tela compartilhada.
2. Esmague a conformidade
O excesso de afinidades destrói a criatividade, por uma conformidade
que ocorre quando as pessoas acreditam que devem ter como objetivo a aceitação
de seu grupo. A colaboração virtual produz menos pressão para essa conformidade,
em parte porque o grupo está menos envolvido entre si do que os grupos
presenciais (produzindo menos pistas sobre a aceitação, como contato visual
apenas entre alguns membros), e em parte por causa do efeito de desinibição
online, ou a ideia de que as pessoas são mais propensas a expressar e não se preocupem
em fazer com que os outros gostem deles ao interagir digitalmente.
Como os colaboradores virtuais geralmente são totalmente
visíveis uns para os outros, o efeito de desinibição ainda exerce influência,
uma vez que muitos dos rituais de polidez da comunicação presencial, como
concordar vocalizando e conversas triviais, não estão mais presentes.
3. Facilite a expressão de ideias por meio da redação cerebral
Brainwriting é o primo mais sofisticado do brainstorming. Um problema com o brainstorming
é que as pessoas muitas vezes se autocensuram por preocupação com a resposta do
grupo, como observado acima em relação à conformidade. E mesmo quando os indivíduos
estão dispostos a falar, eles podem não conseguir a palavra, dada a enxurrada
caótica de ideias que estão sendo compartilhadas.
O Brainwriting resolve esses problemas por meio da geração
simultânea de ideias por membros individuais do grupo. O grupo reserva um tempo
para que os indivíduos anotem suas ideias e depois se reúnem para
discuti-los. A comunicação virtual é ideal para criação cerebral, porque
os participantes podem contribuir anonimamente para um quadro branco virtual comum
ou documento compartilhado sem influência significativa do grupo. E quando eles
se reúnem para discutir ideias, isso praticamente os ajuda a expressar suas
opiniões com mais honestidade (novamente, por causa do menor número de pistas
de aceitação do grupo).
4. Promova o pensamento altamente construtivo
A pesquisa
indica que o pensamento de baixa interpretação resulta em menos criatividade do
que a variedade de alta interpretação. Pense na construção de baixa e alta construção
como graus de foco das lentes de uma câmera: o pensamento de baixa construção,
como uma teleobjetiva, enfatiza os detalhes; o pensamento de alta
interpretação, a lente grande angular, captura a imagem maior.
Um estudo descobriu que as pessoas pensam em ideias mais
criativas quando acreditam que estão interagindo com alguém a uma distância
física maior, porque isso ativa processos de pensamento de construção superior (foco
no quadro geral e pensamento abstrato). A comunicação virtual tem implícita a percepção de uma distância maior do que as interações pessoais.
é possível melhorar isso pedindo a cada participante da reunião virtual para
anunciar sua localização: “Olá, sou Pedro Paulo, estou em Jacarepaguá, por exemplo.
5. Promova diversas interações
Pesquisas dos autores sugerem que a presença de um único
recém-chegado pode estimular a criatividade do grupo, gerando um maior número e
variedade de ideias. Em geral, a diversidade aprimora o processo criativo.
Em
uma reunião virtual, não se pode escolher seu assento e ter conversas laterais
não é tão tentador, devido à tela compartilhada e ao risco de enviar
acidentalmente um pensamento particular para todos.
Esses fatores aumentam a probabilidade
de pessoas em ambientes virtuais interagirem com participantes que não conhecem
bem, aumentando a criatividade.
6. Mantenha registro do que e como foi feito
Antes do COVID-19, muitas reuniões presenciais de
brainstorming não eram gravadas, apagando qualquer vestígio de ideias
descartadas. Isso falha em maximizar a produção do grupo, porque retornar às
ideias que foram sugeridas anteriormente aumenta o desempenho do grupo. Dizem os autores que “o silêncio é o maior
assassino da geração de ideias criativas; e dar voz a ideias (mesmo as antigas)
estimula novos insights.
Nos encontros online, em geral gravados, janelas de bate-papo, quadros brancos
eletrônicos e outras ferramentas de colaboração virtual funcionam como cofres e
“cemitérios”, memorizando sessões e tornando mais fácil revisitar ideias anteriormente
esquecidas.
Concluindo, o artigo afirma que:
"Nada disso sugere que a comunicação virtual seja a cura para
todos os problemas de colaboração criativa, ou que os gerentes e suas equipes
devam trabalhar em seus próprios “faróis” sempre que possível, evitando o
contato cara a cara. No entanto, a colaboração virtual oferece benefícios que
muitos de nós não percebemos ou buscamos no pré-COVID-19.
Nossa produção criativa
pode ser ainda melhor por causa disso".
Para ler o artigo na íntegra acesse: https://sloanreview.mit.edu/article/virtual-collaboration-wont-be-the-death-of-creativity/
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