terça-feira, 22 de junho de 2021

Como trabalhar a cultura empresarial com baixa demanda de contato pessoal

Observatório JB traz nesta postagem comentários sobre possíveis impactos que podem ocorrer na cultura das organizações, no médio e longo prazos, com a extensão do uso de algumas das novas formas de trabalhar adotadas neste período de pandemia. E apresenta alternativas que estão sendo formuladas para  fazer a transmissão de aspectos comportamentais da cultura, que são absorvidos pela observação direta, em um ambiente com baixa demanda de contatos pessoais. 

Tempo aproximado de leitura:  10 minutos

Contexto
Os meses mais recentes que vivemos – na verdade, mais de um ano – trouxeram muitos desafios para as relações interpessoais no mundo empresarial, principalmente no que se refere ao desenvolvimento humano e à formação de equipes.

Com grande parte do pessoal trabalhando em home office e agora, gradualmente, com a adoção do “modelo híbrido” (semipresencial), uma importante etapa do desenvolvimento profissional tem sido prejudicada, mais especificamente a modelagem profissional – que se dá preponderantemente pela possibilidade dos novos profissionais absorverem a experiência e a cultura organizacional, de forma combinada, a partir da observação e interação junto aos profissionais mais experientes.

Sabemos que a expectativa de resposta desta questão vai além do que pode proporcionar um treinamento produzido para ser realizado por meio remoto, com possibilidade de interação entre as partes. Na verdade, ao longo dos anos, a forma natural como essa modelagem profissional vem se dando, tem levado em consideração como aspecto mais importante do aprendizado o que é chamado por alguns especialistas de “absorver pela observação”, processo pelo qual os jovens (ou recém-contratados) podem aprender sobre a postura diante do trabalho, as normas e as principais características da cultura de uma empresa. 

Nessas condições as pessoas em processo de ambientação ouvem conversas telefônicas com negociações difíceis, vivenciam o grau de proximidade e troca dentro da equipe e entre as diferentes equipes, observam o tempo e o processo para produzir um documento complexo, participam de visitas a clientes para ouvir os desafios e preocupações destes, além de terem oportunidade de receber tarefas diretamente dos mais antigos e obter feedback destes quanto ao conteúdo e à forma esperados na empresa. Aprendem pelo conhecimento tácito as normas, a dinâmica e a cultura corporativa e dão também a sua contribuição para a equipe.

Desde março de 2020 muitos profissionais passaram a trabalhar em casa, isso nos leva a perguntar sobre como proporcionar algum conhecimento tácito, neste contexto, aos novos empregados.

Conhecimento tácito
Especialistas, analisando empresas mundiais, afirmam que o conhecimento não falado, que se acumula com o tempo, precisa de confiança e familiaridade para fluir e tende a seguir caminhos já bem consolidados. 

Afirmam também que, por serem detentores de imensa quantidade de conhecimento tácito, os membros mais velhos e experientes das organizações não tem qualquer prejuízo neste particular por trabalhar em casa. Já aos trabalhadores mais jovens ou àqueles que acabaram de ingressar em organizações, a estes faz falta esta forma de entender o que é o lugar, como navegar no negócio, ou onde o verdadeiro poder está, por trás das hierarquias formais.


Como é motivo de preocupação crescente, o assunto produziu algumas pesquisas e parte do que se descobriu foi suficiente para aumentar a preocupação dos especialistas porque há sinais de que:

1. o trabalho híbrido, em que um trabalhador está no escritório apenas alguns dias por semana, vai se transformar em uma estrutura de trabalho de longo prazo; 

2. pessoas mais velhas e experientes, podendo evitar longos deslocamentos, tendo escritórios domésticos confortáveis ​​e redes bem estabelecidas, tendem a optar por trabalhar de casa tanto quanto possível;

3. pessoas mais jovens, com sede de socialização, estariam dispostas a trabalhar no escritório com mais frequência;

4. em consequência, teríamos nas empresas muitos “observadores”, mas poucos modelos a serem observados.


A absorção de experiência e o convívio com aspectos da dinâmica da empresa, junto aos profissionais mais experientes, continua sendo importante na formação da cultura organizacional.


Estratégias

Se definição ainda não há, algumas estratégias para superar essas dificuldades foram alinhadas, produzindo orientações tais como:

1. Inovar com tecnologia. É fato que as empresas agora estão inovando com tecnologia. Por exemplo, a empresa de consultoria PwC, usou plataformas e realidade virtual para ajudar a integrar os mais de 1.300 novos contratados que começaram a trabalhar em seus escritórios no Reino Unido no ano passado.
Na prática: Os novos contratados, sem contato físico, são apresentados a um "parque mundial virtual". Lá, eles podem optar por assistir aos sócios seniores presentes em um auditório virtual, interagir com outros novatos na cafeteria virtual usando fones de ouvido (de realidade virtual) e até mesmo fazer uma viagem de lancha. “A intenção é de que as pessoas sintam que podem passear e ter conversas privadas e percebam que este é um espaço íntimo onde podem fazer perguntas”, segundo executivo da PwC.

2. Organizar as interações.  Consiste em promover rodadas de conversas com tópicos que a equipe realmente quer ouvir, em grupos de três ou quatro novos contratados que se reúnem semanalmente para falar sobre altos e baixos e se apoiarem mutuamente, em sessões dirigidas por profissionais mais experientes na empresa.

Na prática: Durante o início do encontro, os novos são convidados a falar sobre as preferências de estilo de trabalho para que possam aprender rapidamente como seus colegas trabalham juntos como uma equipe. Participam, também, de sessões de vídeo três ou quatro dias por semana durante uma hora, orientados por líderes e compartilhando como trabalham, suas táticas de resolução de problemas e descrições de “um dia na vida” com diferentes papéis. 

 

Em artigo* recente da publicação online do MIT, são acrescentadas a estas as seguintes diretivas:

a. É urgente que sejam desenvolvidas novas formas de disseminação do conhecimento, além das produzidas com o treinamento formal, para a integração de novos profissionais, à medida em que mudamos nossas formas de trabalhar.
Porque, se o encontro face a face é menos frequente, os meios para absorção desse conhecimento, por vezes não explícito, precisam ser substituídos para que a transmissão de importantes informações para a evolução do ambiente da empresa não sofra interrupções. Reportando-se ao texto acima, algumas opções podem ser as conversas com curadoria ou os mundos virtuais criados pela PwC.

b. A montagem de modelos híbridos deve considerar a necessidade de criar momentos em que “observadores” e “observados” possam interagir presencialmente, projetados na proporção de horas ou nas “escalas” de trabalho presencial,.

   Porque, se no modelo híbrido de trabalho os “observadores” estiverem sempre no escritório e o “observado” em casa, ou se a coincidência de ambos no ambiente presencial for eventual, é alta a probabilidade de que ocorra uma séria perda de qualidade nessa transmissão de conhecimento e na transmissão de aspectos da cultura organizacional.

c. Quando houver previsão da ocorrência de eventos com experiências valiosas, é importante garantir que aqueles que mais possam se beneficiar deles estejam presentes. Seja no modo presencial ou remoto.
Porque, para que tenhamos a transmissão do conhecimento, da experiência, ou, como se diz informalmente, “todos na mesma página”, a exposição simultânea a experiências importantes é crucial no desenvolvimento individual, na formação das equipes e na evolução da cultura organizacional.

 

Desenho do futuro

Em todo o material disponível e nos questionamentos até hoje elaborados sobre o trabalho remoto - e o seu derivado, modelo híbrido - muito se fala sobre as necessidades de recursos de tecnologia, de modelos de gestão de equipe, de acompanhamento de projetos etc. Conteúdos obviamente válidos na medida em que nos habilitam para lidar com uma nova demanda que, para muitos, surgiu inesperadamente.

Agora, porém, podendo olhar o futuro com uma perspectiva de prazo mais longo, e considerando que componentes da mudança temporária estão sendo incorporados à vida das empresas, o estudo e a aplicação de técnicas para o fortalecimento dos aspectos da cultura organizacional – seja para a sua manutenção ou transformação – devem passar a receber maior atenção e divulgação no meio dos especialistas em gestão.

 

Informações detalhadas, pedido de reunião ou interesse em temas afins: contato@jbconsul.com.br  
ou  
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(*) Artigo escrito por Lynda Gratton ( @lyndagratton ), professora de prática de gestão na London Business School e fundadora da prática de consultoria HSM. Seu livro mais recente (com Andrew J. Scott) é The New Long Life: A Framework for Flourishing in a Changing World (Bloomsbury, 2020).


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